Conferências



Modos de produção de subjetividade e atuação do psicólogo clínico em serviços públicos - Sandra Lourenço Corrêa
Apresentação do projeto de pesquisa, em andamento, realizado na Faculdade da Fundação Educacional Araçatuba. Seu principal objetivo é investigar a atuação do psicólogo no atendimento clínico em serviços públicos. O projeto se justifica pela importância que o atendimento clínico tem para a melhoria da qualidade de vida da população, sobretudo a de pouco acesso aos meios que visam produzir essa qualidade. Trata-se de questionamentos de antigas e costumeiras práticas que valorizam as relações assimétricas, sobretudo pela representação social do psicólogo como detentor de um saber dominante, fundamentado em critérios universais de conhecimento e intervenções que se legitimam por uma determinada concepção de demanda psíquica.


A política de redução de danos na saúde como uma ‘medicina do corpo sem órgãos’- Ricardo Rodrigues Teixeira
No rastro das leituras deleuzeanas de Spinoza, que tomam a Ética como o grande livro do Corpo sem Órgãos, darei prosseguimento às especulações já iniciadas sobre uma possível "medicina do Corpo sem Órgãos" ("A Grande Saúde: uma introdução à medicina do Corpo sem Órgãos" In: Interface - comunicação, saúde, educação, v.8, n. 14, pp.35-72, set.2003/fev.2004), abordando as atuais estratégias de "redução de danos" no campo da saúde a partir das noções de conatus, resistênca-ativa e afirmação da vida. Mais do que uma estratégia particular para se lidar com algumas questões específicas no campo da saúde (destacadamente, o uso abusivo de substâncias psicoativas e a prevenção de DST/AIDS), essa leitura permite um entendimento dessa estratégia como uma das múltiplas maneiras de se caracterizar uma hipotética "medicina do CsO".

"Psiquiatria Materialista" Segundo Deleuze e Guattari: produtividade do inconsciente e sintomatologia - Hélio Rebello Cardoso Jr.
A "esquizoanálise", conforme proposta por Deleuze e Guattari, apresenta, em uma de suas principais teses, o questionamento acerca da validade do complexo de Édipo como fator estruturante do inconsciente. Nesta palestra, verificaremos tal postulado, a partir de dois ambientes que o envolvem, um ambiente filosófico e outro terapêutico. O primeiro deles diz respeito ao fato de que a esquizoanálise constitui uma “psiquiatria materialista”, em clara objeção a um suposto idealismo que alimentaria outras concepções de inconsciente. O segundo ambiente a ser percorrido é relativo à noção de sintoma, não como representação das vicissitudes de uma história interior e privada, mas como fluência de uma memória-mundo. Em ambos os casos, o que está em jogo é a definição de um renovado conceito de inconsciente onde o ponto de partida é destacar sua produtividade, ao invés de seu desempenho como memória de representação.



Conversando sobre a experiência dos encontros em Gilles Deleuze - Sonia Regina Vargas Mansano
Encontramo-nos em um momento histórico marcado pela produtividade e competitividade nos mais variados contextos. Quando pensamos especificamente nas práticas da psicologia clínica, será que elas precisam acompanhar a expectativa idealizada que se volta para a obtenção de resultados rápidos? Tomar em análise esta questão é algo que se impõe quando partimos da perspectiva de que os encontros clínicos são povoados por uma complexa diversidade de movimentos e conexões. Tais encontros podem vir a colocar terapeutas e pacientes em processos de produção de si. Em função disso, buscaremos compreender, no decorrer deste diálogo, o quanto a prática clínica tem como condição de possibilidade a experiência de afetos que emergem nos encontros cotidianos e que abalam territórios previamente organizados, convocando o sujeito a problematizar os modos de vida por ele inventados e assumidos.


Saúde pública e relações micropolíticas com a cidade: produções ético-estético-políticas - Priscila Tamis de Andrade Lima
Apostando em uma poética-procedimento e na indissociabilidade entre os conceitos e experiências como produtores de cultura, uma parceira de trabalho e eu investimos na criação de um vídeo-ensaio em ecologia urbana, que sonda as políticas narrativas e problematizações no fluxo corpo-cidade-saúde. A produção de um vídeo-ensaio como método cartográfico diz da criação e travessia de uma linguagem complexa, de uma abertura essencial de si, desejando o desconhecido, a incerteza e dissolução do ponto de vista. Uma poética-procedimento do equilíbrio no incerto e da desnaturalização dos acontecimentos. Todo o percurso técnico, cenas, relatos e imagens captados, partilhados e conectados compõem uma política da narratividade, que busca afirmar a vida e aprimorar as perguntas, antes de tentar qualquer resposta. Como contamos nossas histórias, nossas relações e produções em saúde? Como nos posicionamos em relação ao que contamos? Nossas narratividades não estão desarticuladas das políticas em jogo – políticas de saúde, políticas de pesquisa, políticas das subjetividades. Como estamos sendo provocados em nossos encontros? De que saúde falamos e qual vida afirmamos? Um corpo que se inscreve numa ecologia urbana dos afetos. Uma saúde que se recria enquanto conceito e possibilidade de existência viva, ultrapassando os limites dos consultórios e settings, derramando-se nas ruas, metrôs, trens, ônibus e praças. Ampliamos assim, nossas práticas e cuidados na relação com tudo o que nos atravessa, fazendo saúde pública a partir de relações micropolíticas com a cidade. E da força-intempestiva e delicadeza-abrigo forjadas em cada encontro, tecemos uma clínica ampliada da arte.



Conexões entre o nomadismo e os processos de virtualização no contemporâneo - Rafael Augusto Kwiatkoski Vieira
O Inconsciente maquínico-desejante, que constitui a base do pensamento de Gilles Deleuze e Félix Guattari, é revolucionário por sua própria definição: trata-se de uma fábrica, que não representa nada, não quer dizer coisa alguma, não tem utilidades ou funções a priori. Produz. Insere o desejo na produção, e, por outro lado, a produção no desejo. A proposta aqui apresentada é a de articular os conceitos de inconsciente e de nomadismo, através de uma conexão entre o estudo da Nomadologia, especialmente no Anti-Édipo, de Deleuze e Guattari, e a problematização das novas possibilidades de encontro trazidas pelas modernas tecnologias da inteligência e do ciberespaço, baseando-nos nos estudos de Pierre Lévy.



Clinica da Diferença na saúde pública - um fazer dos possíveis - Mariane Pontes da Silva
A partir da implantação do SUS como modelo de cuidado dentro da saúde pública brasileira, colocamos a atenção á saúde mental em um novo contexto. Se
durante anos os cuidados eram baseados no encarceramento e distanciamento social, após a alteração de paradigmas começamos a falar de um processo de ressocialização. Neste ínterim, se faz imperativo compreender em que lugar estamos colocando a pratica clinica aos usuários da saúde mental. Por razão de recorte e delimitação, trataremos aqui da estruturação da saúde mental, em especifico de sua clinica, dentro da atenção básica. Como uma tentativa de humanizar o fazer clinico se constrói o conceito de clinica ampliada como uma pratica do olhar complexo as vidas que atendemos. Porém, ao longo da construção de nossa pratica dentro da saúde publica observamos que esse processo tem se instaurado como um emoldurar de simulacros, conceitos passam a ser apenas novos nomes a que chamamos a mesmice esvaziada de uma clinica do “não olhar”. Assim, desenvolvemos nossa ideia em torno do conceito de construção de um processo clinico que em busca de sua potencialização seja desenhado respeitando os possíveis das vidas com que se articulam. Propomos uma leitura efetiva da noção de território, diferença e essencialmente da noção de clinica dentro da saúde pública. Para tal usaremos o relato de algumas vidas com que nos encontramos em nossa jornada dentro da saúde publica da periferia do município de São Paulo.


Política de Composição: vitalizando diferenças - Juliana Varela
Numa sociedade em que o saber e poder ficam enclausurados em alguns modelos únicos e hegemônicos, e algumas vezes até mesmo a arte é capturada por estes modelos, é de certa forma naturalizado que as pessoas não se vejam e não se sintam sendo produtivas e verdadeiramente artistas quando lançam mão de saberes e fazeres corriqueiros, populares e de estratégias cotidianas de certa forma simples nas exigências de ‘executabilidade’, mas também de conexões complexas na elaboração.
Estas forças que ficam lançadas num certo segundo plano, em conhecimentos secundários e/ou complementares, em aptidões personalizadas e individualizadas...esses certos 'devires revolucionários', que se configuram em forças e potências que podemos nos aliar na clínica, que, sendo individual ou grupal, diz de uma potência coletiva.
“É uma questão de vida, que passa no interior dos indivíduos como na espessura de uma sociedade, criando novas relações com o corpo, o tempo, a sexualidade, o meio, a cultura, o trabalho(...).”
Todo esse campo intensivo que permite e convida a composições. Que nos fazem e desfazem, produzindo deslocamentos infindáveis de pensamentos e posturas...vontade de expandir, busca por modos que possibilitem a contínua criação e alguma propagação das potências, que muitas vezes escondem-se, escamoteiam-se, camuflam-se nas rotinas e automatismos, afinal, a vida é vital, em suas diversas maneiras e expressões; ela se inventa, se adapta, se contorce, se estica só pra continuar sendo. O desejo aqui posto é de compreender multiplamente e dar visibilidade ao potencial de criar, inventar, gerar meios de adaptação, de escape, de fazer das diversas diferenças e de cada uma delas o que nos une, matéria de composições sem fim.

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